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O tempo decorre como uma espiral.

Espirais. Círculos e ciclos. O tempo decorre como uma espiral. Roda, anda, segue e avança. Os minutos, as horas e os ritmos da vida parecem repetir-se. Nunca nada é igual. Há um início mas o fim ainda não está visível.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

 


gravura a água forte 1974


No dia 25 de Abril de 1974 estava em Paris. Naquela manhã como era costume apanhei o comboio e fui até à estação de St. Lazare onde apanhei o metro para o Atelier 17. Assim que lá cheguei uns colegas disseram-me que tinha havido uma revolução em Portugal. Fiquei logo aflita pois os meus dois filhos e a minha mãe que tinham estado em França connosco, tinham ido para Lisboa uns dias antes. Fui a correr telefonar para o meu marido que estava a trabalhar numa empresa de engenharia em La Defense. Ele também tinha acabado de saber. Ficamos preocupados até conseguir falar para Lisboa pois temíamos que houvesse violência e que eles corressem perigo.

Nos dias que se seguiram andámos ansiosos por notícias. Vivíamos na outra margem do rio Sena em frente do bosque de Bolonha. Tínhamos na altura um Volkswagen carocha e era no rádio do carro que conseguíamos sintonizar a rádio portuguesa especialmente de noite e a meio da ponte sobre o rio.

Recentemente numa noite do dia 25 de Abril ouvi com prazer e muita saudade as músicas apresentadas no programa da RTP 1. Todas as músicas e poemas apresentados no programa mexeram comigo. Parecia que estava a reencontrar velhos amigos com quem não estava há muito tempo.

Fiquei com saudades do espírito que nos guiava nos anos que se seguiram à revolução dos cravos. Mais do que saudades daquele tempo tive saudades de mim. Eu e grande parte dos jovens da minha geração tínhamos grandes ideais, o sonho de ajudar a construir um mundo melhor e mais justo.

texto EMS

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