A minha Lista de blogues

O tempo decorre como uma espiral.

Espirais. Círculos e ciclos. O tempo decorre como uma espiral. Roda, anda, segue e avança. Os minutos, as horas e os ritmos da vida parecem repetir-se. Nunca nada é igual. Há um início mas o fim ainda não está visível.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

 

Da mais alta janela da minha casa




Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.


E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?


Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.


Passo e fico, como o Universo.


Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)


Sem comentários:

Atelier 17   O Atelier 17  foi uma escola e atelier de arte que influenciou o ensino e a promoção da  gravura  no século XX. Originalmen...